segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Santa Tereza Fields Forever

Santa Tereza
Amelinha
Composição: Raimundo Fagner / Abel Silva



Dez da manhã esse dia
é um bonde que me guia, sobre curvas e perigos
na lembrança dos amigos
Sobe o morro da alegria, desce a ladeira do medo
viaja ao meio-dia, força crua de um segredo
Esse dia posto ao meio, fio limite de uns olhos
Que me olham passageiros pelas ruas da cidade
Leio as cartas dos leitores nos jornais, a madrugada
Viaja pra muito longe nesse meio-dia a dia
Nesse bonde lembro e esqueço
Tão passageiro é o dia





DITA

a Dedé Veloso

Qualquer poema bom provém do amor
narcíseo. Sei bem do que estou falando
e os faço eu mesmo pondo à orelha a flor
da pele das palavras, mesmo quando

assino os heterônimos famosos:
Catulo, Caetano, Safo ou Fernando.
Falo por todos. Somos fabulosos
por sermos enquanto nos desejando.

Beijando o espelho d'água da linguagem,
jamais tivemos mesmo outra mensagem,
jamais advinhando se a arte imita

a vida ou se a incita ou se é bobagem:
desejarmo-nos é a nossa desdita,
pedindo-nos demais que seja dita.

Antonio Cicero

CICERO, Antonio. Guardar. Rio de Janeiro: Record, 1997. P. 29.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

De "Os dragões não conhecem o paraíso"

Só quem já teve um dragão em casa pode saber como essa casa parece deserta depois que ele parte. Dunas, geleiras, estepes. Nunca mais reflexos esverdeados pelos cantos, nem perfume de ervas pelo ar, nunca mais fumaças coloridas ou formas como serpentes espreitando pelas frestas de portas entreabertas. Mais triste: nunca mais nenhuma vontade de ser feliz dentro da gente, mesmo que essa felicidade nos deixe com o coração disparado, mãos úmidas, olhos brilhantes e aquela fome incapaz de engolir qualquer coisa. A não ser o belo, que é de ver, não de mastigar, e por isso mesmo também uma forma de desconforto. No turvo seco de uma casa esvaziada da presença de um dragão, mesmo voltando a comer e a dormir normalmente, como fazem as pessoas banais, você não sabe mais se não seria preferível aquele pantanal de antes, cheio de possibilidades - que não aconteciam, mas que importa? - a esta secura de agora. Quando tudo, sem ele, é nada.

ABREU, Caio Fernando.Caio 3D. O essencial da década de 1980. Rio de Janeiro: Agir, 2005. P. 135.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

das notas íntimas de Kaváfis

Aquilo que, a meu ver, faz com que a literatura inglesa seja fria é - afora certas deficiências da língua inglesa, - o - como dizê-lo? - conservadorismo, a dificuldade - ou relutância - em distanciar-se das convenções e o temor de ofender a moral, a pseudomoral, porque assim devemos chamar à moral dos ignorantes.
No último decênio, foram escritos numerosos livros franceses - bons e maus - que levam em consideração e discutem corajosamente o novo aspecto do amor. Novo fato não é; tem sido tão-só menosprezado há séculos, na presunção de ser um tipo de loucura (o que a ciência desmente) ou delinquência (o que a lógica desmente). Sobre ele, ao que eu saiba, não há nenhum livro inglês. Por quê? Porque temem ofender os preconceitos. E no entanto, esse tipo de amor existe entre os ingleses, assim como existe - e tem existido - em todos os povos, conquanto só para alguns indivíduos.

Konstantinos Kaváfis

IN: KAVÁFIS, Konstantinos.Reflexões sobre poesia e ética. Tradução direta do grego e apresentação de José Paulo Paes. São Paulo: Ática, 1998.

domingo, 20 de dezembro de 2009

chão de pendências

dedicado a Bel e Francisco



Lorca

O poeta diz a verdade

Quero chorar minha mágoa, e to digo
para que tu me ames e me chores
em um anoitecer de rouxinóis,
com um punhal, com beijos e contigo.

Quero matar a única testemunha
para o assassinato de minhas flores
e converter meu pranto e meus suores
em eterno montão de duro trigo.

Que não acabe nunca a madeixa
do bem-me-quer, mal-me-quer, sempre ardida
com decrépito sol e lua velha.

Que o que não me dás e não te peça
será para a morte, que não deixa
nem sombra pela carne estremecida.

Federico García Lorca
Tradução: William Agel de Mello

In: LORCA, Federico García. Antologia Poética. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Hino ao Nilo*

Festa a ti Nilo quando sobre esta terra
te manifestas
A paz é teu caminho vida vida vida ao Egito
Escondes entre as trevas a tua travessia
Hoje se canta a tua passagem
Onda nos jardins frutos e flores ao sol
A tudo que tem sede vida você vida e vida
Sobre os desertos não amas chover
O Nilo desce e o deus da terra faz pão
Em grãos se abre a deusa e outro deus anima as oficinas

Senhor dos peixes vem além da catarata
Nenhum campo mais o pássaro invada
Criador do trigo ventre da cevada
Em teus tempos perdurem todos os templos
De trabalhar não parem teus dedos
Homem, mulher, mulher, homem quem não morre de fome?

*Autoria desconhecida
Tradução de Paulo Leminski

IN: Poemas traduzidos. São Paulo: Folha de S. Paulo, 1987. P. 45.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Para ler, ouvir, ouviver

Não me arrependo
Caetano Veloso
2006

eu não me arrependo de você
cê não me devia maldizer assim
vi você crescer
fiz você crescer
vi cê me fazer crescer também
pra além de mim

não, nada irá nesse mundo
apagar o desenho que temos aqui
nem o maior dos seus erros,
meus erros, remorsos, o farão sumir
vejo essas novas pessoas
que nós engendramos em nós
e de nós
nada, nem que a gente morra,
desmente o que agora
chega à minha voz.

© Uns Produções Artísticas Ltda

sábado, 12 de dezembro de 2009

Tapete verde

Lá, depois das cacimbas
das lavadeiras das Rocas,
entre a Praia do Meio
e a rua Miramar,
arrodeado de areia branca
o Tapete Verde.
Lá, onde a bola,
esse "utensílio semivivo",
rolava nos pés dos craques
do arrabalde
em que suava a camisa
do Racing
na glória dos gols que ficavam
para além do gramado
de areia.

João Batista de Morais Neto

sábado, 5 de dezembro de 2009

SONETO NUM CARDÁPIO

Quem está no prato? O tempo, que o homem come
misturado a espinafre e carne dura.
Entre o talher e a vida ele tritura
as horas que temperam sua fome.

Rei de si mesmo, sem vassalo ou nome,
ele mastiga o mundo, e a dentadura
muda o cardápio numa massa escura
que na úmida garganta rola e some.

O homem que come o pão que o diabo amassa
e quando come se lambuza, e come
gato por lebre, na aventura louca

de tudo reduzir a pesca e caça,
come, para viver, a própria fome,
e, como os peixes, morre pela boca.

Ledo Ivo.

IVO, Ledo.Melhores Poemas. Seleção de Sergio Alves Peixoto. 4 ed. São Paulo: Global, 2001.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Exercício de leitura

BREVE ANOTAÇÃO SOBRE UM ANJO TERRÍVEL
Por João Batista de Morais Neto


Foi através da revista Singular & Plural (nº 1, 1978), que tomei conhecimento, ou melhor, me aproximei da poesia intrigante do paulista Roberto Piva. Seu texto poderosamente anárquico ali se insurgia contro todo o bom-mocismo da época, e já era assim desde a década de 60. E contra toda e qualquer moral repressiva, ele gritava: “Nestes dias em que meus únicos companheiros foram a música de Mautner & algum garoto triste conquistado de madrugada em alguma esquina da solidão, eu sei que foram vocês que exilaram Gregório de Matos, enforcaram Essenine, apertaram o revólver musical de René Crevel, internaram Artaud, o Momo, no manicômio”.
E isso já era o bastante para afirmar a sua irreverência crítica, sua astúcia e guerrilha poética. Pouco tempo depois, chega às minhas mãos o volume 26 Poetas Hoje, a famosa antologia de Heloísa Buarque de Hollanda. Para quem queria conhecer melhor uma obra tão desbragadamente curiosa e importante, esse livro apresentava uma boa reunião de poemas pivianos. É interessante notar que esse material, em sua maioria, é já uma produção do início dos anos 60, ao contrário dos outros poetas ali incluídos.
A poesia desse maldito declarado é influenciada pela leitura de nomes importantíssimos, desde representantes do Expressionismo alemão, do Surrealismo, da Semana de 22, das poesia beat norte-americana. Seus textos entremeados de citações remetem-nos a esses referentes todos, de forma sempre fragmentada, e que, por tal razão, causa-nos um estranhamento poético que não deixa de ter relação com o seu próprio temperamento rebelde.
O texto de Piva é agressivo e anarquicamente erudito. Paradoxo? Ou será que um “marginal” não pode estar muito bem informado quanto ao melhor da literatura do planeta? Podemos dizer que a sua poesia ainda é uma arte do signficado, se quisermos levar em consideração questões formalistas. Mas nem tudo. Os seus textos longos passam-nos um conteúdo caústico. Mas esse discurso, por ser fragmentado, embaralha a sintaxe, desbundando-a (considerem a expressão!).
Em seu primeiro livro, Paranóia (1963), há versos assim: “Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci/... onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos furiosos puxam a descarga sobre o mundo/... onde borboletas de zinco devoram as góticas hemorróidas das beatas”. Trata-se, é claro, de uma poesia que saúda o delírio em detrimento da razão constituída. E ele mesmo confessa no prefácio ao seu livro 20 Poemas com Brócolis: “´O poeta faz-se vidente mediante um longo, imenso e sistemático desregramento de todos os sentidos’. Assim Rimbaud definia a passagem da Poesia para a Vidência. Tendo essa afirmação em mente, o leitor deve entrar neste livro para percorrer as veredas do Sonho & da Paixão através das quais chegue a reunir estes estilhaços de visões”. Mais uma vez, estamos diante de um caso em que vida e obra são inseparáveis. Diz Piva a título de teoria e prática de sua obra: “Só acredito em poeta experimental que tenha vida experimental”.
Essa poesia, que é uma celebração orgiástica, feita de imagens delirantes e de uma modernidade, por que não dizer, originalíssima, é também um convite ao sonho, à libertação do tédio alienante do cotidiano capitalista. Em seu Pornosamba para o Marquês de Sade, ele escreve: “Esta homenagem coincide com a deterioração da Bastilha Sul-Americana minada pela crise de corações & balangandãs econômicos onde se mata de tédio o poeta & de fome o camponês”. O poeta e crítico Régis Bonvicino é feliz quando afirma que “o boêmio Piva não pode, entretanto, ser acusado de alienado. Nem burgueses nem operários compreendem, como diz um dos versos deste poeta, que ´têm poemas que abrem brechas na realidade’”.
Feito um anjo terrível, rilkeano, ele canta tudo isso, essa santa marginalidade, como que evocando São Genet, com sua linguagem tipo uma lâmina brilhante e bem afiada, cheia de “imagens violentas”. Piva surge e se insurge entre nós como um dos melhores poetas brasileiros dos últimos anos. Pois ele sabe que a utopia, na qual acredita, é o único lugar habitável pelo poeta. Qual Pasárgada. Em sua revolta, atentando para o seu mais significativo modelo, ele revela-se “contra tudo/por Lautréamont” e assim pinta e borda a ironia de sua linguagem. Piva, o enfant terrible, o “menino impossível” de Jorge de Lima. Falar sobre ele e sua obra é tarefa que nos obriga a exigirmos nossa cota de ócio, para que possamos lê-lo e descobri-lo em trabalho onírico, que reclama uma realidade sempre nova, reinventada, em que a poesia ligada à vida, exige prazer e liberdade.

IN: Sol Que Faltava, ano I, nº 2, Natal, out/87.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O PHÁRMAKON PLATÔNICO


O nosso interesse é o de discutir aqui alguns problemas que o filósofo Jacques Derrida propõe, com base na leitura da obra de Platão, o filósofo grego. O nosso enfoque se deterá na leitura de A República, principalmente os livros I, II e III, a fim de relacionar a ideia do phármakon como metáfora que incidirá sobre a possível condenação do poeta. O conceito de escritura, que emerge da discussão de Platão em torno da República, como um fundamento para a formação da sociedade, consiste num tema privilegiado para a filosofia contemporânea de Derrida, quanto a sua idéia de desconstrução. Trata-se da escritura como phármakon, ou seja, uma idéia platônica que é marcada insistentemente pela ambigüidade. Assim, a escritura-phármakon é a verdade e a mentira, o veneno e o remédio, aquilo que deve ser lido da produção dos poetas e o que deles deve ser censurado. Desde já, a discussão incita-nos a citar Derrida (1991, p. 11):

Somente uma leitura cega ou grosseira pôde, com efeito, deixar correr o boato de que Platão condenara simplesmente a atividade do escritor. Nada aqui está isolado, e o Fedro procura também, na sua escritura, salvar – o que é também perder – a escritura como o melhor, o mais nobre jogo.


Muito embora a citação remeta ao Fedro, a idéia se repete como elemento importante nos diálogos travados em A República. Esse jogo, que é a escritura, marcado pela ambivalência, como um dispositivo que salva e, concomitantemente, também perde, responde ou corresponde á idéia do phármakon, na medida em que ela suscita os diversos significados de remédio, veneno, droga, filtro, por exemplo.
A ameaça configurada pelo phármakon constitui um elemento central n’A República, pois, ao envolver a noção de escritura platônica, partindo de uma série de oposições que formam o arcabouço da metafísica, esse elemento traz a inquietante faceta da ambigüidade. Para Derrida, em Platão, “a palavra phármakon é tomada numa cadeia de significações. O jogo dessa cadeia parece sistemático. Mas o sistema não é aqui, simplesmente, aquele das intenções do autor conhecido sob o nome de Platão.” (DERRIDA, 1991, p. 43)
Assim, Derrida acredita na considerável dificuldade de estabelecer uma provável reconstituição do sistema textual de Platão. Conforme o filósofo francês, a palavra phármakon é a mais adequada para “atar todos os fios da correspondência”. A dificuldade de se traduzir os termos do discurso platônico se opera nessa reconstituição, dada a problemática ambigüidade que é difícil de ser recuperada pelo tradutor. Então, phármakon como remédio “torna explícita a racionalidade transparente da ciência, da técnica e da causalidade terapêutica”, enquanto Platão, por outro lado, também apresenta a escritura como suspeita.
Os mitos egípcios são necessários ao discurso de Platão para desenvolver sua argumentação a respeito da escritura. Dessa forma, Theuth, Thot, Hermes etc. atuam como referências fundamentais a fim de compreender suas idéias. Thot, inclusive, surge no texto no texto platônico como deus da escritura. Questiona Derrida: “Quais são os traços pertinentes para quem tenta reconstituir a semelhança estrutural entre a figura platônica e outras figuras mitológicas da origem da escritura?” (DERRIDA, 1991, p. 32) No desenvolvimento dessas relações, Thot-Ra, a escritura surge como uma suplemento da fala.
No texto de A República (Livro III), Platão, por meio da voz de Sócrates, diz: “... a verdade deve sobrepor-se a tudo. Porque, se não nos enganamos quando dissemos que a mentira é inútil aos deuses, mas útil aos homens sob a forma de remédio, claro é que esse uso deve ser confiado somente aos médicos e não a toda gente.” (PLATÃO, 2001, p. 95) Desse modo, percebe-se como Platão, ao formular a sua noção de sociedade, procura, por meio do diálogo, tendo à frente figura de Sócrates, uma persona, estabelecer normas para esse Estado. Sua palavra é contra os poetas, escritores, que nos infundem medo da morte. Isso representa um julgamento ou censura do texto poético, a escritura, que não é adequado ao projeto de sociedade platônica. O phármakon (remédio e escritura) não pode se contaminar com a linguagem imitativa. Para o bem da república, os poetas (Platão cita Homero) devem ser banidos, censurados. Mas aí temos um problema que vem à tona explicitamente: a relação ambígua que se dá por meio das oposições que constituem o pensamento.
Considerando essas observações Santos (2001, p. 80) propõe-nos:

Em Platão há uma ambigüidade que influenciará todo o mundo ocidental, pois há uma clara repulsa à poesia e aos poetas, mas uma tentativa de construir um saber racional sem, no entanto, romper totalmente com a poesia e com os mitos que nela são produzidos e até reproduzidos.

Assim, o Logos excluiria o discurso da sensibilidade poética, uma vez que nele se encontraram formas não aceitáveis de exemplos para a educação dos jovens. Nesse caso, a ameaça se faz pelo discurso poético, uma escritura essencialmente ambígua, cujos conteúdos que tecem o objeto literário comprometem o sentido moral da república. Por isso, trata-se a escritura de uma droga suspeita. Em vez de remédio, surge uma escritura suspeita, capaz de intervir, de forma negativa, na formação do Estado. Dessa maneira, a idéia que fica no discurso platônico é a de uma escritura como proibição, o texto literário.
Já no início da conversa, no Livro III, afirma Sócrates: “Importa, pois, vigiar sobre o que contam estas fábulas e recomendar-lhes que convertam em elogios todo o mal que ordinariamente dizem do inferno. Porque essas narrativas nem são verdadeiras nem tendem a inspirar confiança aos guerreiros.” (PLATÃO, p. 92) A insensatez configura-se como a marca da poesia, contrariando a razão platônica. Os heróis das epopéias não podiam ser fracos, nem darem sinal de desequilíbrio nenhum, a hybris seria indesejável, pois o que se fazia urgente e necessário para que a emergência da república era a temperança. Assim, condenava-se a fraqueza, o riso, o medo e tudo que se manifestasse nas narrativas homéricas.
A hegemonia do discurso da verdade como representação do Logos tornaria inviável o discurso literário. Dessa forma, a droga só é necessária como elemento positivo, como verdade, como algo útil. Então Sócrates, Adimanto e Glauco discutem a definição da matéria do discurso, tendo Sócrates como voz primordial. Vejamos:

Assim, pois, se viesse ter ao nosso Estado um desses homens peritos na arte de tudo imitar e de assumir formas diferentes, com o fito de se fazer admirar por si e por seus feitos, certo o acolheríamos como a um ser divino, maravilhoso e arrebatador, mas do mesmo passo, lhe diríamos que nosso Estado não se fundou para conter figuras de tão raro mérito, nem nos era lícito abrigá-las. E com isso o despediríamos para outra sociedade, depois de lhe haver derramado perfumes sobre a cabeça e de o ter coberto de faixas. Preferiríamos um poeta e fabulista menos gracioso, porém mais austero, mais útil, que imitasse o homem de bem e seguisse escrupulosamente as regras que havemos prescrito de começo, ao traçar o plano da educação de nossos guerreiros. (PLATÃO, 2001, p. 107)

Nessa fala de Sócrates já se percebe, não só a sua intolerância, mas o modelo que deve ser imposto à república para que o Estado funcione com perfeição, sem o risco da contaminação da desmedida. O poeta precisa estar de acordo com as normas sociais da república, já que o seu “delírio” não pode contaminar os jovens. Sócrates parece o rei, o pai da fala. O jogo da escritura produzido no círculo socrático, no qual opera o phármakon, implica esse conflito de ambivalências em que os sentidos se dão num jogo muitas vezes contraditório. E aí nesse círculo tanto o sofista quanto o poeta, no tocante à matéria do discurso, colocam-se como inimigos da república, afeitos à imitação e à aparência. Fica, então, sendo o logos como uma phármakon, cuja eficácia serve aos propósitos da verdade platônica.

Referências

DERRIDA, Jacques. A farmácia de Platão. São Paulo: Iluminuras, 1991.
PAVIANI, Jayme. Platão e A República. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. (Passo-a-passo)
PLATÃO. A República. Bauru: Edipro, 2001. (Série Clássicos)
SANTOS, Ivanaldo Oliveira dos. A função do poeta n’A República de Platão. In: Odisséia, nº 09, vol. 7, 2001, p. 79-84, UFRN.

poema

FRUTA-PÃO

Para Leo Ventura

Minha madeleine
É a memória dessa fruta
Nas beiras litoral
Entre os coqueiros e a brisa
O cheiro de sol na areia
Os movimentos livres da infância
Os agitos soltos da juventude
O amor ancorado na pulsação quieta
A poesia inscrita no sabor

João Batista de Morais Neto

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Craquinho

Eu tava três dias fumando horrores. Sem comer. Sem dormir.Só queimando a pedra. Você para, a fissura te pega. Já se perde numa nóia de veneno.
Não é como outra droga, não. O craque. Cê não consegue largar. Quer mais um. Mais um. E mais um.
É diferente porque ele você ama.
Só dez segundinhos. Fatal. Te bate no pulmão. O bruto soco na cabeça. E o mágico tuimmm!
Na pedra, sabe? Tem um espírito vivo. Daí o craquinho fala direto comigo:
- Vai, Edu. Vai nessa, mermão!
Cê fica o tal. Olho de vidro, o polegar chamuscado, acelero alto. Mais força e poder. O pico de zoar no paraíso.
E já no inferno. Isso aí, bacana. O teu inferno sem volta.
Fatal.

Dalton Trevisan

TREVISAN, Dalton.Duzentos ladrões. Porto Alegre:L&PM, 2008.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

do desejo

ETC.
Caetano Veloso



Estou sozinho, estou triste etc.
Quem virá com a nova brisa que penetra
Pelas frestas do meu ninho
Quem insiste em anunciar-se no desejo
Quem tanto não vejo ainda
Quem, pessoa secreta
Vem, te chamo
Vem etc.

© Editora Gapa

domingo, 22 de novembro de 2009

Um poema de Marize

Estrangeira

Abriga-me em suas coxas
pois perdi a rota.
Por erro, talvez.
Raro destino, quem sabe.

Fui além de mim.

Afastei-me de casa.
Confundi-me com outras.
Surpreendi-me.

Os fios que teci na sua escuridão
tornaram-me seta e luz.

Mais estrangeira do que sempre fui.

Marize Castro


CASTRO, Marize. Lábios espelhos. Natal:Una,2009.

eros segundo sontag

Na América, os temas interligados do erotismo e da liberdade começam agora a ser tratados seriamente. A maioria das pessoas ainda se sente exigida a travar a velha batalha contra as inibições e a pudicícia, partindo do pressuposto de que a sexualidade é algo que necessita simplesmente se expressar de modo mais livre. Um país no qual a justificativa de um livro tão reacionário do ponto de vista sexual como O Amante de Lady Chatterley consitui uma questão importante, encontra-se claramente num estágio muito elementar da maturidade sexual. As ideias de Lawrence sobre sexo são gravemente prejudicadas por seu romantismo de classe, por sua mística da distinção do macho, por sua insistência puritana na sexualidade genital; e muitos dos seus recentes defensores no campo da literatura admitiram isto. No entanto, Lawrence deve ser defendido, principalmente quando muitos que o repudiam se retiraram para uma posição ainda mais reacionária do que a sua, considerando o sexo um acessório prosaico do amor. A verdade é que o amor é mais sexual, mais corporal do que Lawrence jamais imaginou. E as implicações revolucionárias da sexualidade contemporâneas estão longe de ser completamente compreendidas.
Susan Sontag - 1961

In: SONTAG, Susan. Contra a interpretação. Porto Alegre: L&PM, 1987.

poema

falta água e falta
água tens e não tens
os surfistas de são miguel paulista quebram ondas
nos tetos dos trens

Amador Ribeiro Neto

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Do excepcional

"Os acontecimentos excepcionais devem encontrar ressonância em nós para nos marcar profundamente." Gaston Bachelard

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Poema

A Carlos Drummond de Andrade

Há muitas sombras no mundo
Elas ventam nas nuvens
e no ar
brilham solitárias como topázio -
gotas de luz apagadas

Os astros ventam
A sombra é o vento dos astros

No fundo das águas prisioneiras
de lagos e açudes
há um vento de águas -
sombras

No mar
refratam-se submersas
viageiras
em meio a florestas de alga -
sombra das sombras emersas

São feitas - as sombras - de ar
escuro
Lembram o tudo e o nada

O voo das sombras
gira em torno de uma coluna
sonora, o poema -
luz de dentro

Fora

Francisco Alvim

IN: Elefante.São Paulo: Companhia das Letras, 2000,p.70-71.

domingo, 25 de outubro de 2009

Soneto já antigo

Olha, Daisy: quando eu morrer tu hás de
dizer aos meus amigos aí de Londres,
embora não o sintas, que tu escondes
a grande dor da minha morte. Irás de

Londres p'ra Iorque, onde nasceste (dizes...
que eu nada que tu digas acredito),
contar àquele pobre rapazito
que me deu tantas horas tão felizes,

Embora não o saibas, que morri...
mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
nada se importará... Depois vai dar

a notícia a essa estranha Cecily
que acreditava que eu seria grande...
Raios partam a vida e quem lá ande!

Àlvaro de Campos/Fernando Pessoa

Fernando Pessoa. Obra poética. Organização, Introdução e Notas de Maria Aliete Galhoz. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.

A poesia da Lapa


Lapa
Caetano Veloso


samba-Canal 100 no meio de 60
e nos 70 era o Largo da Ordem
tudo vinha desaguar na Lapa
Lapa, minha inspiração,
Lapa, Guinga e Pedro Sá
lição

quem projetaria essa elegância solta
essa alegria, essa moça-vanguarda
esse rapaz gostoso que é a Lapa
Lapa, Circo Voador
Lapa, choro e rock’n’roll
perdão

cool e popular
cool e popular
cool e popular
a Lapa
quem ia imaginar
quem ia imaginar
quem ia imaginar
só eu
eu sozinho, só e solitário
sob a chuva da Bahia

pobre e requintado e rico e requintado
e refinado e ainda há conflito
Pelourinho vezes Rio é Lapa
Lapa
veio a salvação
Lapa
falta o mundo ver
assim
Água de Kassin lava a Nova Capela
eu amo a PUC e a gíria dos bandidos
Fundição Progresso: eis a Lapa
Lapa
Lula e FH
Lapa
amo nosso tempo
em ti
Lapa!…

© Natasha Edições



Ficha técnica da faixa

banda: BandaCê

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Soneto antigo

Esse estoque de amor que acumulei
Ninguém veio comprar a preço justo.
Preparei meu castelo para um rei
Que mal me olhou, passando, e a quanto custo.

Meu tesouro amoroso há muito as traças
Comeram, secundadas por ladrões.
A luz abandonou as ondas lassas
De refletir um sol que só se põe

Sozinho. Agora vou por meus infernos
Sem fantasma buscar entre fantasmas.
E marcho contra o vento, sobre eternos

Desertos sem retorno, onde olharás
Mas sem o ver, estrela cega, o rastro
Que até aqui deixei, seguindo um astro.

Mário Faustino.

Poesia completa, poesia traduzida. São Paulo: Max Limonad, 1985.

domingo, 18 de outubro de 2009

haikai

Mulher sob a lua cheia
Toco a estrela do mar
Nua no mar

Vítor Albano

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

o que foi feito de vera

O que foi feito, amigo, de tudo que a gente sonhou
O que foi feito da vida, o que foi feito do amor
Quisera encontrar aquele verso menino
Que escrevi há tantos anos atrás
Falo assim sem saudade, falo assim por saber
Se muito vale o já feito, mais vale o que será
Mas vale o que será

E o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir
Falo assim sem tristeza, falo por acreditar
Que é cobrando o que fomos que nós iremos crescer
Nós iremos crescer, outros outubros virão
Outras manhãs, plenas de sol e de luz
Alertem todos alarmas que o homem que eu era voltou
A tribo toda reunida, ração dividida ao sol
E nossa Vera Cruz, quando o descanso era luta pelo pão
E aventura sem par
Quando o cansaço era rio e rio qualquer dava pé
E a cabeça rolava num gira-girar de amor
E até mesmo a fé não era cega nem nada
Era só nuvem no céu e raiz
Hoje essa vida só cabe na palma da minha paixão
Devera nunca se acabe, abelha fazendo o seu mel
No pranto que criei, nem vá dormir como pedra e esquecer
O que foi feito de nós

Fernando Brandt e Milton Nascimento
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terça-feira, 13 de outubro de 2009

O homem velho
Caetano Veloso



O homem velho deixa a vida e morte para trás
Cabeça a prumo, segue rumo e nunca, nunca mais
O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos animais

A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol
As linhas do destino nas mãos a mão apagou
Ele já tem a alma saturada de poesia, soul e rock’n’roll
As coisas migram e ele serve de farol

A carne, a arte arde, a tarde cai
No abismo das esquinas
A brisa leve traz o olor fulgaz
Do sexo das meninas

Luz fria, seus cabelos têm tristeza de néon
Belezas, dores e alegrias passam sem um som
Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron
E ao seu olhar tudo que é cor muda de tom

Os filhos, filmes, ditos, livros como um vendaval
Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal
Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual
Já tem coragem de saber que é imortal

© Editora Gapa

domingo, 11 de outubro de 2009

quase haikais

nenhuma nuvem
só as aves dão rasantes
no deserto da cidade
são ermos os corações
dos amantes

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a paixão nos faz idiotas
somos o mesmo pária
seja com chivas ou com meiotas

João Batista de Morais Neto

recorte das letras


"O verdadeiro amor é vão." Gilberto Gil

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Conversa entre poetas

BALLATA XI
Guido Cavalcanti (tradução:Mário Faustino)

Como não ‘spero voltar nunca mais
Ballatetta, a Toscana,
Vai tu, leve e ligeira,
Direito à minha dama,
Que por ser tão gentil
Honrar-te muito há-de.

Levar-lhe-às notícias de suspiros,
Cheios de dor e de grandes temores.
Mas não te deixes ver por nenhum desses
Inimigos das coisas delicadas
Pois, para pena minha,
Em teu caminho serias detida,
Longe de minha dama,
Fazendo-se sofrer
Em vida e após a morte
Mais pranto e novas dores.

Bem sabes, Ballatetta, como a morte
Já me constrange enquanto vai-se a vida.
Bem sabes que meu peito bate forte
Por aquilo em que pensa todo espírito.
Meu ser de tal maneira é destruído
Que nem resistir posso:
Se me fazes favor leva contigo
Minh’alma - isso te imploro -
Quando ela abandonar meu coração.

Ah, Ballatetta, ao bem que tu me queres
Essa trêmula alma recomendo:
Leva-a contigo até a piedade
Da bela dama a quem ora te envio;
Ah, Ballatetta diz-lhe suspirando,
Quando te vires em sua presença -
“Serva sou vossa, vim ficar convosco,
Da parte de quem foi servo de Amor”.

Tu, voz desanimada e enfraquecida
Que a chorar deixas o cor doloroso,
Com minh’alma e com esta Baladinha
Segue contando de um ser destruído.
Encontrareis uma senhora amável
De mente tão suave
Que só por sempre estardes
Com ela dar-v0s-eis por bem felizes:
Tu, alma, vai, adora-a
Por ser tão valorosa.

BALATETTA

Mário Faustino

Por não ter esperança de beijá-lo
Eu mesmo, ou de abraçá-lo,
Ou contar-lhe do amor que me corrói
O coração vassalo,
Vai tu, poema, ao meu
Amado, vai ao seu
Quarto dizer-lhe quanto, quanto dói
Amar sem ser amado,
Amar calado.

Beijai-o vós, felizes
Palavras que levíssimas envio
Rumo aos quentes países
De seu corpo dormente, rumo ao frio
Vale onde vaga a alma
Liberta que na calma
Da noite vai sonhando, indiferente
À fonte que, de ardente,
Gera em meu rosto um rio
Resplandecente.

No sonolento ramo
Pousai, palavras minhas, e cantai
Repetindo: eu te amo.
Ele, que dorme, e vai
De reino em reino cavalgando sua
Beleza sob a lua,
Encontrará na voz de vosso canto
Motivo de acalanto;
E dormirá mais longe ainda, enquanto
Eu, carregando só, por esta rua
Difícil, meu pesado
Coração recusado,
Verei, nesse seu sono renovado,
Razão de desencanto
E de mais pranto.

Entretanto cantai, palavras: quem
Vos disse que chorásseis, vós também?









BALADETA À MODA TOSCANA

(para arrabil e voz,
e para ser musicada por
Péricles Acavalcanti)


Porque eu não espero retornar jamais
à Lira Paulistana,
diz àquela Diana
caçadora, que eu amo
e que me esquiva,
que dê o que eu reclamo:
e me repara o dano
de tanto desamor.

Porque eu não espero retornar jamais
à Londres suburbana,
diz àquela cigana
predadora, que eu gamo
e que me envisga,
que uma vez faça amo
(e se finja cativa)
deste seu servidor.

Mas diz-lhe que me esgana
passar tanta tortura,
e que desde a Toscana
até o Caetano
jamais beleza pura
tratou com tal secura
um pobre trovador.

Vai canção, vai com gana
à Diana cigana,
e diz que não se engana
quem semana a semana,
sem fé nem esperança,
faz poupança de amor.
Chega dessa esquivança:
que a dor também se cansa
e a flor, quando se fana,
não tem segunda flor.

Quem sabe uma figura
uma paulist’humana
figura de Diana
me surja de repente;
e mostre tanto afeto
que o meu pobre intelecto
saia a voar sem teto
sem ter onde se pôr.
Ânimo, alma, em frente:
diante de tanta Diana
o corpo é o pensador.


Haroldo de Campos

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O MINUTO DEPOIS

Nudez, último véu da alma
que ainda assim prossegue absconsa.
A linguagem fértil do corpo
não a detecta nem decifra.
Mais além da pele, dos músculos,
dos nervos,do sangue, dos ossos,
recusa o íntimo contato,
o casamento floral, o abraço
divinizante da matéria
inebriada para sempre
pela sublime conjunção.
Ai de nós, mendigos famintos:
Pressentimos só as migalhas
desse banquete além das nuvens
contingentes de nossa carne.
E por isso a volúpia é triste
um minuto depois do êxtase.

Carlos Drummond de Andrade. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003, p.1234.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Langston Hughes - negra poesia


TRÊS POEMAS DE LANGSTON HUGHES

ASPIRAÇÃO

Estirar os braços
Ao sol de algum lugar,
E até que morra o dia
Dançar, pular, cantar!
Depois sob uma árvore,
Quando já entardeceu,
Enquanto a noite vem
─ Negra como eu ─
Descansar... É o que quero!

Estirar os braços
Ao sol nalgum lugar,
Cantar, pular, dançar
Até que a tarde caia!
E dormir sob uma árvore
─ Este o desejo meu ─
Quando a noite baixar
Negra como eu.


POEMA

A noite é bela:
Assim os olhos do meu povo.
As estrelas são belas:
Belas são também as almas do meu povo.

Belo é também o sol.
Belas são também as almas do meu povo.

LUA DE MARÇO

A lua está despida.
O vento despiu a lua.
O vento arrancou ao corpo da lua
As suas vestes de nuvens.
E agora ela está nua,
Inteiramente nua.

Mas já não coras,
Ó lua impudica?
Pois tu não sabes
Que não é bonito estar nua?


Tradução: Manuel Bandeira

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Qualquer estação


NAQUELA ESTAÇÃO

Você entrou no trem
E eu na estação
Vendo um céu fugir
Também não dava mais para tentar
Lhe convencer a não partir

E agora tudo bem
Você partiu
Para ver outras paisagens
E o meu coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado naquela estação
E o coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado naquela

Você entrou no trem
E eu na estação
Vendo um céu fugir
Também não dava mais para tentar
Lhe convencer a não partir

E agora tudo bem
Você partiu
Para ver outras paisagens
E o meu coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado naquela estação
E o coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado naquela
estação

Caetano Veloso/Ronaldo Bastos

Para além do Potengi



Voltou a hora da navegação. Navegar é preciso, pois. Um diário de bordo às vezes se perde. É extraviado. Pirateado, porque a famigerada pós-modernidade está contaminada de tudo. Mas os portos de passagem se abrem e convidam, inclusive, aos mares já dantes navegados. Cabe também a memória do movimento dos barcos. Vamos lá.

domingo, 13 de setembro de 2009

Este é um novo espaço para veiculação de ideias sobre poesia, arte e cultura, de um modo plural.