quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Aboio

Aboio
Caetano Veloso



Urbe imensa
Pense o que é e será e foi
Pensa no boi
Enigmática máscara boi
Tem piedade

Megacidade
Conta teus meninos
Canta com teus sinos
A felicidade intensa
Que se perde e encontra em ti
Luz dilui-se
E adensa-se

Pensa-te

© Uns Produções Artísticas Ltda

Beira-mar

Beira-Mar
letra e música - Zé Ramalho


Eu entendo a noite como um oceano
Que banha de sombras o mundo de sol
Aurora que luta por um arrebol
De cores vibrantes e ar soberano
Um olho que mira nunca o engano
Durante o instante que vou contemplar
Além, muito além, onde quero chegar
Caindo a noite me lanço no mundo
Além do limite do vale profundo
Que sempre começa na beira do mar

Por dentro das águas há quadros e sonhos
E coisas que sonham o mundo dos vivos
Peixes milagrosos, insetos nocivos
Paisagens abertas, desertos medonhos
Léguas cansativas, caminhos tristonhos
Que fazem o homem se desenganar
Há peixes que lutam para se salvar
Daqueles que caçam em mar revoltoso
Outros que devoram com gênio assombroso
As vidas que caem na beira do mar

Até que a morte eu sinta chegando
Prossigo cantando, beijando o espaço
Além do cabelo que desembaraço
Invoco as águas a vir inundando
Pessoas e coisas que vão arrastando
Do meu pensamento já podem lavar
No peixe de asas eu quero voar
Sair do oceano de tez poluída
Cantar um galope fechando a ferida
Que só cicatriza na beira-do-mar

© EMI Songs do Brasil Edições Musicais Ltda.


Ficha técnica da faixa
violão e voz: Zé Ramalho

ROTHKO

domingo, 7 de novembro de 2010

Lírica espanhola

ROSA DE MELANCOLIA

Era eu noutro tempo um pastor de estrelas,
e a vida era como luminoso canto.
Um símbolo eram as coisas mais belas
para mim: a rosa, a menina, o acanto.

E era a harmoniosa voz do mundo, u'a
onda azul que rompe na praia de ouro,
cantando o oculto poderio da lua
sobre os destinos do humano coro.

Dava-me Epicuro suas ânforas cheias,
um fauno me dava sua agreste alegria,
um pastor da Arcádia, mel de suas colmeias.

Mas até o sonho navegando um dia,
escutei distante canto de sereias
e adoeceu minha alma de Melancolia.

Ramón María del Valle-Inclán

Tradução: Fábio Aristimunho Vargas

IN: VARGAS, Fábio A (Org.). Poesia espanhola. Das origens à guerra civil. São Paulo: Hedra, 2009, p. 96.