segunda-feira, 12 de julho de 2010

Os amantes, de René Magritte

Alô, Jarbas!

SONETO DE ABRIL

Agora que é abril, e o mar se ausenta
secando-se em si mesmo como um pranto,
vejo que o amor que te dedico aumenta
seguindo a trilha de meu próprio espanto.

Em mim, o teu espírito apresenta
todas as sugestões de um doce encanto
que em minha fonte não se dessedenta
por não ser fonte d'dágua, mas de canto.

Agora que é abril, e vão morrer
as formosas canções dos outros meses,
assim te quero, mesmo que te escondas:

amar-te uma só vez todas as vezes
em que sou carne e gesto, e fenecer
como uma voz chamada pelas ondas.

Ledo Ivo

IVO, Lêdo. Central Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976, p.47.