Aquilo que, a meu ver, faz com que a literatura inglesa seja fria é - afora certas deficiências da língua inglesa, - o - como dizê-lo? - conservadorismo, a dificuldade - ou relutância - em distanciar-se das convenções e o temor de ofender a moral, a pseudomoral, porque assim devemos chamar à moral dos ignorantes.
No último decênio, foram escritos numerosos livros franceses - bons e maus - que levam em consideração e discutem corajosamente o novo aspecto do amor. Novo fato não é; tem sido tão-só menosprezado há séculos, na presunção de ser um tipo de loucura (o que a ciência desmente) ou delinquência (o que a lógica desmente). Sobre ele, ao que eu saiba, não há nenhum livro inglês. Por quê? Porque temem ofender os preconceitos. E no entanto, esse tipo de amor existe entre os ingleses, assim como existe - e tem existido - em todos os povos, conquanto só para alguns indivíduos.
Konstantinos Kaváfis
IN: KAVÁFIS, Konstantinos.Reflexões sobre poesia e ética. Tradução direta do grego e apresentação de José Paulo Paes. São Paulo: Ática, 1998.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário