segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O MINUTO DEPOIS

Nudez, último véu da alma
que ainda assim prossegue absconsa.
A linguagem fértil do corpo
não a detecta nem decifra.
Mais além da pele, dos músculos,
dos nervos,do sangue, dos ossos,
recusa o íntimo contato,
o casamento floral, o abraço
divinizante da matéria
inebriada para sempre
pela sublime conjunção.
Ai de nós, mendigos famintos:
Pressentimos só as migalhas
desse banquete além das nuvens
contingentes de nossa carne.
E por isso a volúpia é triste
um minuto depois do êxtase.

Carlos Drummond de Andrade. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003, p.1234.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Langston Hughes - negra poesia


TRÊS POEMAS DE LANGSTON HUGHES

ASPIRAÇÃO

Estirar os braços
Ao sol de algum lugar,
E até que morra o dia
Dançar, pular, cantar!
Depois sob uma árvore,
Quando já entardeceu,
Enquanto a noite vem
─ Negra como eu ─
Descansar... É o que quero!

Estirar os braços
Ao sol nalgum lugar,
Cantar, pular, dançar
Até que a tarde caia!
E dormir sob uma árvore
─ Este o desejo meu ─
Quando a noite baixar
Negra como eu.


POEMA

A noite é bela:
Assim os olhos do meu povo.
As estrelas são belas:
Belas são também as almas do meu povo.

Belo é também o sol.
Belas são também as almas do meu povo.

LUA DE MARÇO

A lua está despida.
O vento despiu a lua.
O vento arrancou ao corpo da lua
As suas vestes de nuvens.
E agora ela está nua,
Inteiramente nua.

Mas já não coras,
Ó lua impudica?
Pois tu não sabes
Que não é bonito estar nua?


Tradução: Manuel Bandeira

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Qualquer estação


NAQUELA ESTAÇÃO

Você entrou no trem
E eu na estação
Vendo um céu fugir
Também não dava mais para tentar
Lhe convencer a não partir

E agora tudo bem
Você partiu
Para ver outras paisagens
E o meu coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado naquela estação
E o coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado naquela

Você entrou no trem
E eu na estação
Vendo um céu fugir
Também não dava mais para tentar
Lhe convencer a não partir

E agora tudo bem
Você partiu
Para ver outras paisagens
E o meu coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado naquela estação
E o coração embora
Finja fazer mil viagens
Fica batendo parado naquela
estação

Caetano Veloso/Ronaldo Bastos

Para além do Potengi



Voltou a hora da navegação. Navegar é preciso, pois. Um diário de bordo às vezes se perde. É extraviado. Pirateado, porque a famigerada pós-modernidade está contaminada de tudo. Mas os portos de passagem se abrem e convidam, inclusive, aos mares já dantes navegados. Cabe também a memória do movimento dos barcos. Vamos lá.

domingo, 13 de setembro de 2009

Este é um novo espaço para veiculação de ideias sobre poesia, arte e cultura, de um modo plural.