segunda-feira, 28 de junho de 2010

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Os leões estão brincando no jardim

Dentes gelados, unhas à mostra
o leão arranha levemente
a pele de puro gesso: estátua branca
Peônias farfalham mudas
ante a imaginação selvagem e furiosa
vento vento vento
na tarde de abismos, constelações
de leões, centauros prontos para o bote,
o amor perigoso, atado ao tudo
ou nada: um par de olhos diante
de sua máscara de oxigênio

Ademir Assunção

In: DANIEL, Cláudio e BARBOSA, Frederico.Na virada do século. Poesia de invenção no Brasil.São Paulo: Landy, 2002, p. 34.

PÁLIDO CÉU ABISSAL

que não nos protege,
é antes cúmplice, ou mentor
intelectual dessas ruínas,
de nossas mentes estropiadas.
Ao passar por certas casas e ruas
suburbanas, ocorre às vezes
de nos depararmos com algo
que brilha deslumbrante e dissimétrico,
e nos comove a ponto de nos
perguntarmos se de sua aparição
escandalosa, sua cauda
luminosa de átomos e vazio,
poderão surgir algum dia
moças asseadas em vestidos
de flores, conduzindo pela
mão crianças bem penteadas
para a Escola Municipal,
o Sonho Municipal.
Parei um dia em uma dessas
praças e, deitado sobre a
grama, me pus a escutar a
desconexão absoluta de
todas as falas do mundo, de
todos os sonhos do mundo.
Ao levantar-me para buscar
um pouco de água no tanque
vazio vi (me encarava)
uma ratazana que ainda
assim me lembrou
Debra Wingers
abandonada no deserto.

Carlito Azevedo

AZEVEDO, Carlito. Monodrama. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2009, p. 55.

FRUTA-FURTO

Atrás do grupo-escolar ficam as jabuticabeiras.
Estudar, a gente estuda. Mas depois,
ei pessoal: furtar jabuticaba.

Jabuticaba chupa-se no pé.
O furto exaure-se no ato de furtar.
Consciência mais leve do que asa
ao descer,
volto de mãos vazias para casa.

Carlos Drummond de Andrade

IN: ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003, p. 985.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

terça-feira, 15 de junho de 2010

Leminski

três haikais de Leminski

cinco bares, dez conhaques

atravesso são paulo

dormindo dentro de um táxi



longo o caminho até o céu

essa minha alma vagabunda

com gosto de quarto de hotel



dia sem senso

acendo o cigarro no incenso


Paulo Leminski

IN: LEMINSKI, Paulo. La vie en close. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

domingo, 6 de junho de 2010

Um poema de Edna St. Vincent Millay

Lamento sem música


Não estou conformada com o encerramento na terra de
corações apaixonados.
Assim é e será pois sempre foi, em qualquer época
passada.
Vão para a sombra os sábios, os amáveis. Coroados
com lírios e louros; mas eu não estou conformada.

O amante, o pensador, na terra com eles você se
confundiu.
Na bruta e promíscua poeira, como corpo dos outros, o
seu.
Um fragmento do que você soube, do que você sentiu.
Uma fórmula, uma frase ficam; mas o melhor se perdeu.

A resposta arguta, o olhar honesto, o amor, o riso perfeito
- Perdidos. Foram alimentar as rosas. Elegante, ondulado,
se descerra.
O canteiro. Fragrantes, os canteiros. Eu sei. Mas não
aceito.
Mais preciosa era a luz dos seus olhos que todas as rosas da
terra.


Tradução: Jorge Wanderley.

In: WANDERLEY, Jorge. Antologia da nova poesia norte-americana. Seleção, tradução e notas de Jorge Wanderley. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1992, p.147-148.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

De emblemas

A economia já previa
o desabar da chuva
no interstício de algum
cálculo diferencial?

pensa o jovem lírico
em frente à janela

Carlito Azevedo

In: AZEVEDO, Carlito. Monodrama. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2009, p. 15.