domingo, 27 de março de 2011

RILKE-AUGUSTO

DER DICHTER

Du entfernst dich von mir, du Stunde,
Wunder schlägt mir dein flügleschlag.
Allein: was soll ich mit meinem Munde?

Ich habe keine Geliebte, kein Haus,
keine Stelle, auf der ich lebe.
Alle Dinge, an die ich mich gebe,
werden reich und geben mich aus.

Rainer Maria Rilke


O POETA

Já te despedes de mim, Hora.
Teu golpe de asa é o meu açoite.
Só: que fazer da boca, agora?
Que fazer do dia, da noite?

Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.

Tradução: Augusto de Campos

CAMPOS, Augusto de. Rilke: poesia-coisa. Rio de Janeiro: Imago, 1994.

sábado, 26 de março de 2011

artigos para presente

aos corações namorados
desejo uma forração de pneu
para tratores, é desnivelada
a estrada do amor

e o raro dom de transformar
as máquinas pesadas da convivência
em miniaturas de máquinas pesadas
da convivência

uma jaqueta corta-frio para distâncias
convenientes e forçadas, brigas de quarta
série primária e joguinhos de salão
ao relento. já aos corações devotados

aos seus corações namorados desejo,
sobretudo, o enrosco, aquele laço fatal
do nhenhenhem do carinho e o tempo
medido por um relógio de pulso quebrado.


Bruna Beber

BEBER, Bruna. Balés. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009, p. 21.