domingo, 22 de novembro de 2009

eros segundo sontag

Na América, os temas interligados do erotismo e da liberdade começam agora a ser tratados seriamente. A maioria das pessoas ainda se sente exigida a travar a velha batalha contra as inibições e a pudicícia, partindo do pressuposto de que a sexualidade é algo que necessita simplesmente se expressar de modo mais livre. Um país no qual a justificativa de um livro tão reacionário do ponto de vista sexual como O Amante de Lady Chatterley consitui uma questão importante, encontra-se claramente num estágio muito elementar da maturidade sexual. As ideias de Lawrence sobre sexo são gravemente prejudicadas por seu romantismo de classe, por sua mística da distinção do macho, por sua insistência puritana na sexualidade genital; e muitos dos seus recentes defensores no campo da literatura admitiram isto. No entanto, Lawrence deve ser defendido, principalmente quando muitos que o repudiam se retiraram para uma posição ainda mais reacionária do que a sua, considerando o sexo um acessório prosaico do amor. A verdade é que o amor é mais sexual, mais corporal do que Lawrence jamais imaginou. E as implicações revolucionárias da sexualidade contemporâneas estão longe de ser completamente compreendidas.
Susan Sontag - 1961

In: SONTAG, Susan. Contra a interpretação. Porto Alegre: L&PM, 1987.

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