segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Canção de alta noite

Alta noite, lua quieta,
muros finos, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta
não precisa de casa.

Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.

Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.

Andar... - enquanto consente
Deus que seja a noite andada.

Porque o poeta, indiferente,
anda por andar - somente.
Não necessita de nada.

Cecília Meireles

MEIRELES, Cecília. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 38.

2 comentários:

  1. Linda poesia João! Pra você, né? Por isso que você é da Rua, não é da casa. Não sabia que você estava agora com esse blog. Que bom! Vou viajar por aqui, nessa rua poética de tantas esquinas, leitura certa, certeira, em meu coração!

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