Um risco maduro de assobio.
O trincar do gelo comprimido.
A noite, a folha sob o granito.
Rouxinóis num dueto-desafio.
Um doce ervilhal abandonado
A dor do universo numa fava.
Fígaro: das estantes e flautas -
Geada no canteiro, tombado.
Tudo o que para a noite releva
Nas funduras da casa de banho,
Trazes para o jardim uma estrela
Nas palmas úmidas,tiritando.
Mormaço: como pranchas na água,
Mais raso. Céu de bétulas, turvo.
Se dirá que as estrelas gargalham,
E no entanto o universo está surdo.
Boris Pasternak
1917
Tradução de Haroldo de Campos
CAMPOS, Augusto de; CAMPOS, Haroldo de; SCHNAIDERMAN, Boris. Poesia Russa Moderna. Nova Antologia. 3 ed. São Paulo: Brasiliense, 1985.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
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