sábado, 8 de maio de 2010

Blake

CANÇÃO DEMENTE

A noite é muito fria,
Selvagem uiva o vento;
Vem, Sono, e me alivia
De tanto sofrimento:
Mas eis que espreita o sol nascente
Na escarpa do oriente,
E eis que a passarada da aurora
À terra ignora.

Vê! Para a abóbada
Do céu pavimentado,
Repleto de tristeza
O meu canto é levado:
Umedece os olhos do dia,
Os ouvidos da noite invade,
Enlouquece a ventania...
E brinca a tempestade.

Qual diabo por nuvem coberto,
Com angústia ululante,
Sigo a noite de perto
E irei com ela adiante;
Volto as costas à aurora,
De onde o consolo aflora,
Que a luz me agarra a mente
Com dor fremente.

William Blake

MAD SONG

The wild winds weep,
And the night is a-cold;
come hither, Sleep,
And my griefs infold:
But lo! the morning peeps
Over the eastern steeps,
And the rustling birds of dawn
The earth do scorn.

Lo! to the vault
Of pavèd heaven,
With sorrow fraught
My notes are driven:
They strike the ear of night,
Make weep the eyes of day;
They make mad the roaring winds,
And the tempests play.

Like a fiend in a cloud
With howling woe,
After night I do crowd,
And with night will go;
I turn my back to the east,
From whence comforts have increas'd;
For light doth seize my brain
With frantic pain.

Tradução: Paulo Vizioli.

In: BLAKE, William. Poesia e prosa selecionadas. Edição bilíngue. São Paulo: J. C. Ismael,1984, p. 12-13.

3 comentários:

  1. Valeu João, te descobrir. Presentão!

    ResponderExcluir
  2. este teu espaço sempre acena com surpresas. que
    maravilhoso redescobrir o mundo joão batista de morais neto, seus textos, escolhas, tiques, toques, baques, desalinhos. abs, grande poeta.

    ResponderExcluir