SONETO DE ABRIL
Agora que é abril, e o mar se ausenta
secando-se em si mesmo como um pranto,
vejo que o amor que te dedico aumenta
seguindo a trilha de meu próprio espanto.
Em mim, o teu espírito apresenta
todas as sugestões de um doce encanto
que em minha fonte não se dessedenta
por não ser fonte d'dágua, mas de canto.
Agora que é abril, e vão morrer
as formosas canções dos outros meses,
assim te quero, mesmo que te escondas:
amar-te uma só vez todas as vezes
em que sou carne e gesto, e fenecer
como uma voz chamada pelas ondas.
Ledo Ivo
IVO, Lêdo. Central Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976, p.47.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
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Desde Ledo Ivo que o neoparnasianismo me acompanha, nunca pude me desvencilhar dele, amigo João.Formalmente tão correto, politicamente tão incorreto.Mário de Andrade reclamava: faltava a esses sonetos a dor. Abs.
ResponderExcluirNão sei, Jarbas, a qual dor se referia Mário de Andrade. Pelo que você comenta, seria a do politicamente incorreto. A dor do mundo tão cara a tantos poetas modernos brasileiros. Tenho lido Levo Ivo a conta-gotas. Considero-o um bom poeta, embora certos traços da geração de 45 não me agradem. João
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